Ao fim da milésima jornada, as memórias

Minhas memórias não dariam um livro. Uma coletânea, talvez. Devo à minha imaginação, e a de artistas talentosos demais pra nomear só um, as memórias de mil heróis, de uma centena de viagens e de mundos que visitei.

Já lutei pela salvação do planeta, contra uma companhia que o destruía, apenas para descobrir que eu era uma mentira. Viajei por um mundo a beira do colapso, que lutava por sua sobrevivência, em metrópoles gigantescas, parques de diversão, florestas macabras e uma cratera mortal E quê, no fim, os sacrifícios são necessários.

Já viajei por dois lados de um mesmo mundo, querendo saber quem eu era, sem nem mesmo saber direito porquê eu tinha começado a viajar. Visitei o passado e o futuro, descobri verdades terríveis e mentiras convenientes. E que tudo tem seu propósito.

Descobri que nem sempre somos o que nos dizem que somos. Que a escolhe é somente nossa, e que a luta mais difícil é contra si mesmo. Voei pelos céus de um mundo dominado pelo conflito, questionando o que eu mesmo sabia sobre certo e errado.

Já fui ao espaço, ao centro do planeta, a uma ilha parada no tempo e aqui mesmo, no meu quintal. Já lutei, já amei, sofri e refleti sobre tudo que vivi, indiretamente. Questionei meus motivos, minhas razões, minha sanidade, quem eu era e quem eu queria ser.

Montei dragões, cavalos, lagartos, baleias, andei em navios, carros, dirigíveis e naves espacias, quando na verdade nem tirei carteira de motorista. Sou um mestre espadachim, um mago muito sábio, um gatuno escondido nas sombras, um atirador com a mira de um falcão.

Mas as histórias chegam ao fim. Game Over. Última página. Cena final. E fico feliz em cada uma delas. Jamais repetirei essas jornadas. Ficarão para sempre gravadas na pedra eterna da minha memória, como eu as vivi. Voltar poderia ser... perigoso. Talvez eu tenha mudado demais para viver essas histórias como da primeira vez.

Então me contento com essa felicidade coberta por um veludo de tristeza, a sensação de dever cumprido, e de que é assim que devia terminar. Afinal, o quê importa mesmo é a jornada, certo?

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