Indicações de Jornalista

Inspirado pelo grande [talvez, ou talvez ele seja baixinho, quem sabe?] Duda Rangel, decidi escrever esta pequena crônica, esta grande história, este relato sincero sobre faculdades, jornalistas, e afins. O que se segue é verídico, real, contraditório, polêmico e puramente produto da minha mente. Eu acho.

- Cara, estou pensando em fazer jornalismo, tu que tá nessa facul, que tu achas?
- Não faz essa besteira, velho. Pode fazer até Administração, que é curso de playboy indeciso, mas pelo amor do teu Deus não me escolha Jornalismo

Não digo isso por mal, veja bem. A profissão não é ruim. O curso, mesmo sem diploma, tem lá suas qualidades, seus momentos. Aliás, vários momentos. De conseguir o primeiro estágio. E depois o segundo, e o terceiro, porque não era como você pensava. De se sentir um mestre da arte circense, ao fazer malabares com meio salário de fome. De juntar páginas e páginas de bloquinhos de anotações, alguns de qualidade, outros daquele papel plastificado que eu detesto, mas que sempre ganho de brinde.

De escrever sobre assuntos que você sequer sonhou em conhecer. Eu mesmo já me vi produzindo textos sobre construção civil, sobre campeonatos de esporte, sobre arranjos florais. De escrever sobre assuntos que você adora. Conseguir descolar uma entrada pro show daquela banda que você curte, só no carteiraço,e ainda conseguir uma entrevista no camarim depois. Com direito a aperto de mão,olhe só.

De querer mudar o mundo. Causar uma revolução. Liberdade de imprensa, poder às massas, sonhos de grandeza. E de escrever textos comprados, matérias chapa branca, de ouvir do seu chefe que aquela matéria bacana vai cair, "porque mexe com gente muito grande". De causar impacto, de fazer e acontecer. E acabar escrevendo sobre aquela exposição fotográfica, ou sobre o nascimento de trigêmeos.

De querer mudar o mundo. De contar a história da Dona Maria, 65 anos, que não tinha luz elétrica no bairro. De ouvir um "muito obrigado, meu jovem", por um telefonema da Dona Maria, que agora tem luz e sonha em comprar uma geladeira. Ou do Seu João, que finalmente conseguiu que tapassem o buraco na sua rua, depois de tantos acidentes terríveis.

De prometer a si mesmo tirar o fim de semana de folga. E trabalhar no sábado até tarde. Semana que vem, quem sabe. De querer chegar em casa cedo, jantar alguma coisa quente, dormir e acordar bem disposto. E ficar escrevendo uma matéria até as nove da noite. De almoçar um xis duplo na lancheria, porque era o único lugar aberto às quatro da tarde, que foi quando você terminou aquela pauta.

Ou então, de vencer a vergonha, e ligar para o seu primeiro contato, marcando a primeira entrevista da sua vida. De gaguejar nas perguntas, e se fazer entender, colocando garranchos no bloquinho que depois nem você mesmo vai conseguir ler. Aprender o valor de um gravador. Aprender que o valor é alto, então serve o celular mesmo. E o que é esse tal de lead mesmo?

Enfim, não me leve a mal, meu amigo mas fique longe do Jornalismo. Não que isso seja ruim. Muito pelo contrário, pra mim, é a melhor profissão do mundo. Mas não quero concorrência, por isso. Não tá fácil pra ninguém, e o boleto da faculdade já vai vencer.