Memórias

E ao olhar para trás, ele viu apenas o vazio
Do passado sem memórias

Uma vida sem lembranças, sem momentos
Sentimentos que ele julgava supérfluos
Tinham se tornado necessários e queridos
Ou pelo menos era o que ele julgava.

Mas ele sabia que aquela não era a sua vida
Apenas um punhado de mentiras e de solidão
Frases sem significado, apenas para adoçar a amarga verdade

Tudo pelo que ele tinha lutado, pelo que magoou e foi magoado
Apenas um pretexto para estar ali. Tudo mentira.
Uma bela máscara para uma caixa vazia, um coração frio.

A ninguém mostrou sua verdadeira face, a real personalidade de várias que ele possuía.
Sabia que jamais poderia viver como eles, amar como eles, sorrir como eles.
Fazia piadas, cultivava amizades, perseguia amores platônicos.

Tudo em vão. Ele sabia que um dia finalmente ficaria cansado, que iriam finalmente cair as cortinas do seu maior espetáculo.

Uma vida vazia, sem memórias. Sentimentos esquecidos, vidas vividas em um piscar de olhos. E o vazio, eterno e infinito, de um passado sem lembranças, de um espetáculo sem platéia.

Por Que?

Por que você não disse que viria?
Logo agora que eu tinha
Me curado das feridas
Que você abriu quando se foi
Por que chegou sem avisar?

Eu queria tempo pra me preparar
Com a roupa limpa, a casa em ordem
E um sorriso falso pra enganar

Eu não entendo a sua volta
Eu não entendo a sua indecisão
Num dia sou seu grande amor
No outro dia não, não, não
Por que a surpresa da sua volta?
Justo quando eu tento vida nova

Você vem pra perguntar
Se tudo que eu sentia acabou
Você até parece um vício
Que largar é quase impossível
Exige muito sacrifício

E quando eu me considerava limpo
Vem você pra me oferecer mais
Vem você pra me oferecer mais, mais, mais
Eu não entendo a sua volta
Não entendo a sua indecisão
Um dia sou seu grande amor
No outro dia não, não, não

Vazio


Uma cadeira sobrando. Um espaço em branco. O eco de risadas há muito perdidas, em um lugar vazio e cinza. O frio do vazio aonde uma vez você esteve. O abismo escuro em meu coração. Memórias sombrias de momentos ensolarados. Acordar de sonhos de névoa e encontrar um lugar vazio ao meu lado. Olhar para o espelho e enxergar apenas o distorcido espectro de um ser torturado. Você foi embora, mas eu não queria. Você me deixou, e então eu caí.

Solidão


Cruel dama na terra a vagar
Seu manto frio um convite
Um mergulho em inexploradas profundezas

Seu toque, de dedos gélidos e finos
Afaga com enregelante carinho
O rosto do andarilho

É alma vagante, mas de forte vontade
Tomando-me em gélido abraço
Em noites de luar e estrelas

Seu olhar, azul e bravio como o mar
Fúria da natureza, sentimentos e paixões
Coração frio e duro de aço

Devaneios - Parte I

O bater das asas de uma
Rósea borboleta

O caminhar por entre
mil pingos de chuva

Memórias fugidias como
Célere brisa de outono

Amor e ódio
Perdão e fúria

De fugazes momentos
Construímos nossas vidas

Detestamos a mentira
E tememos a verdade

De sentimentos e valores
Fazemos nossos ideais

Momentos únicos
Experiências inesquecíveis

Vida.

If Death is so bad, why do all skulls seem to smile?


 "Se a Morte é tão ruim, porque todas as caveiras nos parecem sorrir?"

Elas riem de nós, tolos humanos, e nossa eterna corrida contra o inevitável. Evitamos a Morte a todo custo, fazemos de tudo para nos colocarmos acima da única certeza na vida.

Inventamos deuses, fazemos orações, oferendas de "fé" [a moeda celestial], fazemos promessas que vamos esquecer de cumprir, para garantir aquela década, aquele tempo a mais na Terra. E para garantir nosso lugar no Céu de mentirinha, a utopia perfeita para arrebanhar mais tolos.

Escrevemos histórias, de terríveis inimigos e nobres heróis, para nos convencer que a esperança está no fim da estrada dos que praticam o bem. Colocamos nossas memórias no papel, em mais uma fútil tentativa de permanecer vivos por intermédio dos outros, de influenciar os que virão, de tranformá-los numa imagem de nós mesmos.

 Nossas canções falam de amor eterno e sentimentos que superam este vessel, esta fraca vida carnal, mesmo sabendo que quando estivermos de frente com um senhor magro e velho, velho como o tempo, de relógio a tiquetaquear no bolso, e ele nos estender a mão, esqueceremos amores, amizades, rixas e disputas, tudo para permanecer vivos, presentes.

Tememos a Morte, sem perceber seu caráter libertador, ao nos tirar de uma incessante cadeia de alegrias e tristezas, de sorrisos e de lágrimas, e nos juntar, sorrindo, às outras caveiras, eternamente assistindo o desenrolar desta encenação.

O Lento Entardecer

Certo autor, em dado momento, definiu seus momentos de depressão como "crepúsculos de emoção, o entardecer da alma que se aproxima de noites de tristeza e solidão".

Faço dessas minhas palavras, testemunho de momentos que foram, e que virão. Seis meses se passaram desde a última vez que decidi colocar meus pensamentos em palavras. Seis meses de mudanças, de diferenças, de vitórias e de derrotas na guerra da vida. De ver amigos onde antes haviam inimigos, e infelizmente o contrário também.

Nesse tempo, nesse hiato de produção textual, aprendi que a vida é o coringa desse baralho, sempre com uma surpresa e uma expectativa nos esperando logo ali, do lado. Enfim, agora começa um novo ciclo de idéias, textos e devaneios, em um clima bem dark.