Chovendo

Tá chovendo lá fora. Ou será que não?
Talvez isso seja o zumbido do bule de café, sempre ativo. Ou do gravador, amigo, que guarda na memória os resmungos e histórias.
Clack. Acabou a fita. Será que ainda tem mais uma? Reflita, meu caro, reflita.
Mas se acabou, e o zumbido continua, deve ser chuva lá, na rua.
E se for o eco?
Dos meus fones de ouvidos, armaduras que isolam a realidade e me levam a tempos idos?
Talvez. Mas acabou a fita. Não tenho mais uma. Grave por cima, insista.
Afinal o que se perde são resmungos, de um velho sem assunto.
Porque essa insistência doentia, de eternizar as palavras fugidias?
De guardar pensamentos, de ousar penetrar mente adentro?
Não, espere, estou a divagar. O café acabou, melhor não ousar.
Mas se acabou, e o zumbido continua, deve ser chuva lá, na rua.
Caindo, caindo, molhando o chão. Corre, corre, pra não se molhar, me dê a mão.
Espirro, espirro, com um nariz arrebitado. Mas tudo bem, estou aqui, do teu lado.
Ora, veja só,  perdi-me então na trilha obscura, tortuosa que é a imaginação.
Tá chovendo lá fora.

Indicações de Jornalista

Inspirado pelo grande [talvez, ou talvez ele seja baixinho, quem sabe?] Duda Rangel, decidi escrever esta pequena crônica, esta grande história, este relato sincero sobre faculdades, jornalistas, e afins. O que se segue é verídico, real, contraditório, polêmico e puramente produto da minha mente. Eu acho.

- Cara, estou pensando em fazer jornalismo, tu que tá nessa facul, que tu achas?
- Não faz essa besteira, velho. Pode fazer até Administração, que é curso de playboy indeciso, mas pelo amor do teu Deus não me escolha Jornalismo

Não digo isso por mal, veja bem. A profissão não é ruim. O curso, mesmo sem diploma, tem lá suas qualidades, seus momentos. Aliás, vários momentos. De conseguir o primeiro estágio. E depois o segundo, e o terceiro, porque não era como você pensava. De se sentir um mestre da arte circense, ao fazer malabares com meio salário de fome. De juntar páginas e páginas de bloquinhos de anotações, alguns de qualidade, outros daquele papel plastificado que eu detesto, mas que sempre ganho de brinde.

De escrever sobre assuntos que você sequer sonhou em conhecer. Eu mesmo já me vi produzindo textos sobre construção civil, sobre campeonatos de esporte, sobre arranjos florais. De escrever sobre assuntos que você adora. Conseguir descolar uma entrada pro show daquela banda que você curte, só no carteiraço,e ainda conseguir uma entrevista no camarim depois. Com direito a aperto de mão,olhe só.

De querer mudar o mundo. Causar uma revolução. Liberdade de imprensa, poder às massas, sonhos de grandeza. E de escrever textos comprados, matérias chapa branca, de ouvir do seu chefe que aquela matéria bacana vai cair, "porque mexe com gente muito grande". De causar impacto, de fazer e acontecer. E acabar escrevendo sobre aquela exposição fotográfica, ou sobre o nascimento de trigêmeos.

De querer mudar o mundo. De contar a história da Dona Maria, 65 anos, que não tinha luz elétrica no bairro. De ouvir um "muito obrigado, meu jovem", por um telefonema da Dona Maria, que agora tem luz e sonha em comprar uma geladeira. Ou do Seu João, que finalmente conseguiu que tapassem o buraco na sua rua, depois de tantos acidentes terríveis.

De prometer a si mesmo tirar o fim de semana de folga. E trabalhar no sábado até tarde. Semana que vem, quem sabe. De querer chegar em casa cedo, jantar alguma coisa quente, dormir e acordar bem disposto. E ficar escrevendo uma matéria até as nove da noite. De almoçar um xis duplo na lancheria, porque era o único lugar aberto às quatro da tarde, que foi quando você terminou aquela pauta.

Ou então, de vencer a vergonha, e ligar para o seu primeiro contato, marcando a primeira entrevista da sua vida. De gaguejar nas perguntas, e se fazer entender, colocando garranchos no bloquinho que depois nem você mesmo vai conseguir ler. Aprender o valor de um gravador. Aprender que o valor é alto, então serve o celular mesmo. E o que é esse tal de lead mesmo?

Enfim, não me leve a mal, meu amigo mas fique longe do Jornalismo. Não que isso seja ruim. Muito pelo contrário, pra mim, é a melhor profissão do mundo. Mas não quero concorrência, por isso. Não tá fácil pra ninguém, e o boleto da faculdade já vai vencer.

Melodies





The tango is for love
Strong, passionate
Delicate like a dove

Interludes are for beginnnings
Fresh, new, all to discover
Whether it's about losing or winning

Rhapsodies are for the day
When the sun is shining
Clouds floating astray

Sonatas make up for the night
Moonlight shining, pale in the sly
The starts twinkle, ever so bright

And a requiem for the end
When you are tired, close your eyes
Rest now, the final hour bends

Broken


The clock ticks forward, another promise broken

Another hour went down, another moment stolen

Prisoners of eternal time, eternal race against the end

The flame burns, flickers, and dies as the hours bend

Hush, sweet darling, rest your head, sleep is your tone

I promise that your worries with the night shall be gone

But the clock never stops, time unrelenting, sin unforgiven

One last kiss, one last touch, your cold skin, my heart stricken

On the crows’ dark wings, the night wanes, the dawn approaches

It’s late now, the final sleep calls. I close my eyes, your face wanes

Another hour went down.

Your face, my nightmares haunted
A bloody rose, crushing all I hoped
Dark and deep, the night embraces
Moon shining in our frozen faces
Fallen angel, lust and sinner
Prey to demons, wingless, bitter
Insanity, madness, reality fades
Lost in the deep abyss of Hades
On the winter gale, running shadows
Passing moments, empty meadows
Death welcomes, a fleeting call
And on the final night, the curtain falls


All I ever wanted was to feel.
Love, hate, joy, sadness.
To look someone in their eyes
And say “I love you”
Without worrying about it.
Always the guy they could count on
“He’s smart”, they said, “He’s a genius”
Always asking “what are you reading?”
But never “how are you feeling?”
Over and over.
Calling “hey, can you help?” or
“Can you fix this?” but never
“Hey, let’s go out have some fun”
“Come here and join us”
I never really bothered, to be fair.
What you don’t know, you can’t feel
But is that true? Really?
That’s my burden, really.
I know too much.

Uma história



Deixe eu lhe contar uma história, meu amigo.
Uma história de música, de sentimentos, de pensamentos, e muitas outras coisas.
Aconteceu comigo, sim, e doeu, mas valeu a pena?
Oh, sim, definitivamente valeu. Mas sem mais delongas, claro.
“Ela chegou, um dia qualquer, de verão ou de outono, já não me lembro mais, porque mesmo assim, tudo se iluminou, como se o sol seguisse os passos dela. Pegou uma cadeira, se sentou, com seu pequeno computador, sem nem perceber que tinha, definitivamente, arrebatado meu coração.
E eu queria gritar ‘Ei, você, como assim chegar de repente, e roubar meu amor por acidente?’
A partir daí, uma montanha russa se instalou na minha cabeça, com meus pensamentos rodando fugazmente na minha mente, sorrindo quando você sorria, chorando quando você chorava, senti coisas que há muito tempo não me permitia, ou melhor, não conseguia, sentir.
A música, que antes já era uma parte do meu eu, se tornou um combustível, uma ligação em comum com você, que parecia tão distante como a mais brilhante das estrelas do céu, que brilham sem que jamais possamos alcançá-las. Com ela, eu dava vazão às mais profundas sensações, ao mais sensível dos pensamentos, abrindo a porta da minha imaginação.
E aí eu tropecei. E caí no infinito abismo da insegurança, no penhasco insondável e sem fim que se chama medo. Então eu grite, com toda a força dos meus pulmões ‘Eu te amo!’ Aí então você olhou pra mim. E mais por acidente do que por vontade, a gente se beijou. E você disse “me desculpe”, mas eu não te deixei partir.
E por uma fração de segundo, que pareceu durar dias e dias sem fim, eu te segurei em meus braços, e disse ‘Fique aqui comigo’. E a beijei de novo. Então tudo escureceu.
E eu percebi que era apenas um sonho, distante na névoa da noite. A primavera da alma, o verão no coração, tinham virado nada mais que um triste e gelado inverno. E a chuva que caía nada mais era do que minhas salgadas lágrimas, lembranças de algo que nunca tinha existido…

Good Night

Too many a night I spent
Awake, not daring to 
Close my eyes and see
Nightmares on the night

My past sins been huntin' me
Visions of pure fear
Music for my ears
Nightmares on the night

But this struggle I can't
Seem to keep up
A fight I'm fated to lose
Nightmares on the night

Then witness, my friend
As I give in to the darkness
I close my eyes and face my
Nightmares on the night

Inverno


Chuva que cai lavando o mundo
Trovões a ribombar pelo céu escuro de chumbo
O vento uivante que corre as paragens
A névoa branca que se instila nas paisagens

É o prenúncio de um fim
E a chegada de um começo
É o fim dos tempos quentes
Das risadas amigas e do sorrisos joviais

É o início do inverno que chega
Discreto, tímido, uma friagem aqui, uma brisa ali
Mas logo o sentimento gelado que penetra no osso
E que gela tambem o coração nosso

E a chuva que cai...

Alma

It's never the same

I can't seem to focus
And yet I aspire to be wise

I can't afford to feel
But I long for love

I can't seem to belong anywhere
Still, all I want is a friend

I'm a joker, laughing without end
But not a smile shows in my face

Being a pretender, masquerading reality
But in the end, it is all a lie

Lying to hide the fact
That I don't have a soul worth saving.

Cartas


Fifty-Two soldiers
With weapons in hand
To battle they march
To fight for their land

Fifty-Two lives
Some ordinary, some not
But all struggle the same
To untie Fate's knot

Fifty-Two lies
Of love, anger, passion, hate
Don't we all lie
To shield from pain our hearts?

And two Jokers, standing by
Laughing at life, death
And to everthing, thereby

And I dedicate my roses to no one
Cause there is no mind to help me to see
The reason we need
A light for the lonesome
And no one to drink
The blood that I bleed


The poet inside - wasn't given a chance
So he had to live apart
And I realized - my best friend am I
And not those parasites
Who try to stare into my heart


The way that I feel is the way that I heal
My body and soul and my life
And I know you just think I'm a fool
Now watch how a poet flies, see me rise

Dois [mil] lados da mesma moeda


Quem sou eu, realmente falando?
A dualidade sempre foi um aspecto permanente da minha personalidade. Alguns atribuem isso ao meu signo, Gêmeos, outros à minha inerente loucura. Seja qual for a resposta, já é uma parte [divertida] da minha natureza, uma montanha russa emocional da qual nunca se sabe a parada fnal. Em um minuto, sou caloroso, amigo, piadista, sarcástico, amigável, um cara legal, alguns diriam. Mas no outro, sou frio, sozinho, já fui ate chamado de coração de pedra, um ciborgue calculista, um sociopata sem destino.
Qual você prefere?

Síndrome de Peter Pan


Cara, vou te contar. Crescer não é legal. Nada legal. Eu estava aqui, organizando algumas pastas de fotos [sim, antigamente se organizavam álbuns, mas esse tempo já passou, but I digress...], e encontrei algumas fotos do fim do ano passado, pouco antes da nossa formatura no 2° grau. Claro que a nostalgia se manifestou. Não dos tempos de escola, aquilo era uma droga, uma infeliz obrigação na vida de todos, salvo raros momentos luminosos. Mas saudade de um tempo que não volta mais, de uma juventude que passou como uma brisa em um dia quente. Especialmente nesse momento, em que eu e mais alguns que estão nessas fotos, saímos de um período de sufoco [se tu tiver lendo isso, saiba que sim, eu quis estar contigo, mas não é da minha natureza], um choque com a realidade de que sim, realizamos o desejo de toda criança e adolescente: crescemos. Mas não é todo o glamour e o sonho que a gente imagina quando é jovem, e ingênuo. A realidade bate de frente, as responsabilidades vão se acumulando, e por menos que a gente queira, é obrigado a abandonar, a deixar pra trás muita coisa que julgava essencial.
Olhando para trás, com a experiência que eu tenho agora, vejo como ser jovem é um momento rápido, uma passagem fugaz pela parte mais feliz da vida. Enquanto jovens, sonhamos em ficar mais velhos. Quando velhos, choramos com saudade pela juventude desperdiçada. Sim, desperdiçada com sonhos fúteis, com coisas inúteis, olhando demais pra frente e pouco para os lados. A época em que podemos nos dar o luxo de viver sem preocupações, não a inocência pura de uma criança, mas os últimos momentos de irresponsabilidade a serem saboreados. O Tempo é frio, não se importa com sentimentos ou sonhos, na sua lenta e inexorável marcha.
Sim, chame isso de Síndrome de Peter Pan se quiser. Mas o fato é que não queria ter crescido. Pelo menos mais algum tempo dessa louca liberdade, de viver momentos que não voltam mais. Ainda guardo dentro de mim uma certa criança interior, resquício brincalhão e irresponsável de épocas passadas, mas não é a mesma coisa.

A realidade é dura, fria, e não sente pena ou compaixão Aproveite, caro leitor, a fugaz passagem que é a juventude.
Meu nome é Álvaro, tenho 17 anos, mas sinto como se fossem muito mais. E quantos.
“Trimmm...Trimmm... Watson, venha cá, preciso falar com você”. Com essas históricas palavras, foi realizada a primeira ligação telefônica da história, para o assistente de Graham Bell, que estava trabalhando na sala ao lado. O invento, uma idéia acidental do cientista, que estava trabalhando em uma maneira de multiplicar a transmissão telegráfica foi, de certa forma, o pontapé incial da esmagadora maioria das tecnologias hoje consideradas de primeira necessidade em todos os cantos do globo (na África talvez não, mas eles tem todo um sistema de necessidades próprio lá, então deixa em off).

Trocadilhos, por favor


Notícia bombástica: nesta noite de domingo foi anunciada, com sensacionalismo explosivo, a morte de Osama Bin Laden, o fusível responsável por desencadear a flamejante guerra no Oriente Médio. O acontecimeno, um baque de surpresa na organização Al Qaeda, caiu como uma bomba nos canais de notícias americanos, em plena época de campanha de reeleição do atual presidente, Barack Obama, após um mandato com o apelo de uma bombinha de festim.

Sarau da Mentira

Rolou na noite de ontem, dia 1° de Abril (calma, é verdade), no Aristos London House, o Sarau da Mentira, iniciativa do grupo Da Gaveta, responsável pelo fanzine de mesmo nome, que já organizou dois eventos na mesma linha, o Sarau da Loucura e o do Desespero. A idéia por trás do evento, segundo os organizadores, era "revelar mentiras gritantes que são tomadas por verdade por todos ou por alguns. Queremos revisitar o cotidiano por meio de um olhar crítico". O Sarau reuniu diversas formas de cultura, indo desde a música até as artes plásticas, passando pelo teatro, dança, poesia, e afins.

Entre as bandas, destaque para a Vagabundos Iluminados, que tocou clássicos do fundo do baú, e a Lonely Hearts Club Band, que agitou o público com seus covers de Beatles. A Hare Krishna embalou a galera com seu ritmo envolvente, convidando todo mundo a se juntar à dança.

Na poesia e na prosa, Zé do Rio fez uma dura crítica a falta de ação do povo na época da ditadura, e Adriel Seib realizou um discurso flamejante contra a falta de incentivo à cultura em Caxias, seja para a música ou qualquer outra forma de arte, e foi aplaudido com entusiasmo.

Aos livreiros de plantão, havia um estande para troca de livros, bastando levar o seu livro já lido e trocar por outras obras, de diversos autores. A última edição do fanzine Da gaveta também estava disponível, de graça, para quem se interessasse a ler. Camisetas, bordados e peças de artesanato também estavam à venda ali, e havia várias mesas e cadeiras a disposição de quem quisesse curtir a noite com os amigos

Infelizmente, não dá pra falar de todas as atrações, já que a quantidade, diversidade e qualidade delas excede e por demais a minha capacidade de lembrar de todos, então quem aqui não foi mencionado, sinta-se homenageado de forma igual. Foi, na minha opinião, um evento de sucesso, com a casa cheia e fila na porta, com seus altos e baixos, como já estamos acostumados. Uma pena que este tenha sido o último Sarau, mas a  equipe do Da Gaveta prometeu que vai lançar outro evento, com outro formato, ainda esse ano. Ficamos no aguardo então.

*texto publicado originalmente no blog da Revista Zunido - Zunido *

Solitário Passante



I must be invisible;
No one knows me.
I have crawled down dead-end streets
On my hands and knees.

I was born with a ragin' thirst,
A hunger to be free,
But I've learned through the years.
Don't encourage me.

'Cause I'm a lonely stranger here,
Well beyond my day.
And I don't know what's goin' on,
So I'll be on my way.

When I walk, stay behind;
Don't get close to me,
'Cause it's sure to end in tears,
So just let me be.

Some will say that I'm no good;
Maybe I agree.
Take a look then walk away.
That's all right with me.

Por um segundo

Por um segundo, essa fração de tempo tão pequena, eu fui feliz. Experimentei uma sensação que me é tão difícil de pôr em palavras quanto de expressar. Um segundo aonde tudo estava bem, nada mais importava e o resto do mundo era espectador. Felicidade, realmente, era algo tangível.

Mas foi só um segundo. Pois então eu acordei, e esbarrei na realidade.

De Sábios e Tolos

Felizes são os ingênuos e os ignorantes. Passam pela vida felizes, amam, choram, riem. Estão satisfeitos com o que a vida lhes dá, o destino para eles é pontual como um cavalheiro inglês. Não procuram respostas, pois não fazem perguntas, contentes estão com a vida e nada lhes muda a cabeça.

A sabedoria e o conhecimento são fardos que nenhum homem deveria jamais carregar. Seu peso nos torna amargos, cínicos e tolos. Sim, tolos. Perseguimos os porquês, caçamos os comos, fazemos perguntas sem respostas, e procuramos respostas aonde elas não existem. Douglas Adams, um visionário, já tinha compreendido esse terrível carma a que nos expomos. Pois a resposta para a Vida, o Universo e Tudo o Mais é 42, sem dúvida. Mas qual exatamente é a pergunta?

Anos atrás, tolo que era, gastei uma irrecuperável quantidade de tempo perseguindo esfinges de conhecimento, fantasmas de sabedoria. Julgava herói aquele que tivesse as respostas e as perguntas, insensato que era. Já fomos todos nós jovens, idealistas e cheios de idéias, que naufragam ao atingir o recife da realidade. Pois tememos apenas o que conhecemos, e o desconhecido nos é indiferente. Criamos medos, espectros, tentamos mudar o destino e as pessoas, e não reconhecemos a derrota.

Meu maior medo? Eu mesmo. Queria não ser assim, este sábio de araque, filósofo de teclado. Mas, se assim o sou, então aviso aqueles que virão: não desperdice seu tempo caçando efígies, viva a vida, você só tem uma, e o conhecimento é pesado demais para ser carregado pelo homem.

Solitário Andarilho


A definição de solidão segundo o dicionário: "A solidão não requer a falta de outras pessoas e geralmente é sentida mesmo em lugares densamente ocupados. Pode ser descrita como a falta de identificação, compreensão ou compaixão."

Algumas pessoas não suportam a idéia de ficar sozinhas. Outras, se isolam do mundo exterior por falta de opção. Eu, pra variar, fui o diferente. Minha vida tem sido composta de solidão desde muito tempo atrás, quase desde sempre. Nunca me importei, até algum tempo atrás. Recentemente, comecei a me questionar: será que era mesmo assim que eu queria viver?
Eu me sentia sozinho em qualquer situação, fosse no meio da multidão, fosse com aqueles que eu pensava amar. Não tinha ninguém com quem conversar, um ombro amigo pra me apoiar, uma palavra de apoio. Então eu me voltei para a música, que com suas belas melodias conseguia acalmar a crescente sensação de vazio no meu peito. Mas, com o tempo, nem mesmo a música conseguia dar conta. Comecei a me dar conta de que todas falavam de amor, amizade, companheirismo e fidelidade, sentimentos que eu jamais havia sentido de verdade. Percebi que o verdadeiro solitário

Memórias

E ao olhar para trás, ele viu apenas o vazio
Do passado sem memórias

Uma vida sem lembranças, sem momentos
Sentimentos que ele julgava supérfluos
Tinham se tornado necessários e queridos
Ou pelo menos era o que ele julgava.

Mas ele sabia que aquela não era a sua vida
Apenas um punhado de mentiras e de solidão
Frases sem significado, apenas para adoçar a amarga verdade

Tudo pelo que ele tinha lutado, pelo que magoou e foi magoado
Apenas um pretexto para estar ali. Tudo mentira.
Uma bela máscara para uma caixa vazia, um coração frio.

A ninguém mostrou sua verdadeira face, a real personalidade de várias que ele possuía.
Sabia que jamais poderia viver como eles, amar como eles, sorrir como eles.
Fazia piadas, cultivava amizades, perseguia amores platônicos.

Tudo em vão. Ele sabia que um dia finalmente ficaria cansado, que iriam finalmente cair as cortinas do seu maior espetáculo.

Uma vida vazia, sem memórias. Sentimentos esquecidos, vidas vividas em um piscar de olhos. E o vazio, eterno e infinito, de um passado sem lembranças, de um espetáculo sem platéia.

Por Que?

Por que você não disse que viria?
Logo agora que eu tinha
Me curado das feridas
Que você abriu quando se foi
Por que chegou sem avisar?

Eu queria tempo pra me preparar
Com a roupa limpa, a casa em ordem
E um sorriso falso pra enganar

Eu não entendo a sua volta
Eu não entendo a sua indecisão
Num dia sou seu grande amor
No outro dia não, não, não
Por que a surpresa da sua volta?
Justo quando eu tento vida nova

Você vem pra perguntar
Se tudo que eu sentia acabou
Você até parece um vício
Que largar é quase impossível
Exige muito sacrifício

E quando eu me considerava limpo
Vem você pra me oferecer mais
Vem você pra me oferecer mais, mais, mais
Eu não entendo a sua volta
Não entendo a sua indecisão
Um dia sou seu grande amor
No outro dia não, não, não

Vazio


Uma cadeira sobrando. Um espaço em branco. O eco de risadas há muito perdidas, em um lugar vazio e cinza. O frio do vazio aonde uma vez você esteve. O abismo escuro em meu coração. Memórias sombrias de momentos ensolarados. Acordar de sonhos de névoa e encontrar um lugar vazio ao meu lado. Olhar para o espelho e enxergar apenas o distorcido espectro de um ser torturado. Você foi embora, mas eu não queria. Você me deixou, e então eu caí.

Solidão


Cruel dama na terra a vagar
Seu manto frio um convite
Um mergulho em inexploradas profundezas

Seu toque, de dedos gélidos e finos
Afaga com enregelante carinho
O rosto do andarilho

É alma vagante, mas de forte vontade
Tomando-me em gélido abraço
Em noites de luar e estrelas

Seu olhar, azul e bravio como o mar
Fúria da natureza, sentimentos e paixões
Coração frio e duro de aço

Devaneios - Parte I

O bater das asas de uma
Rósea borboleta

O caminhar por entre
mil pingos de chuva

Memórias fugidias como
Célere brisa de outono

Amor e ódio
Perdão e fúria

De fugazes momentos
Construímos nossas vidas

Detestamos a mentira
E tememos a verdade

De sentimentos e valores
Fazemos nossos ideais

Momentos únicos
Experiências inesquecíveis

Vida.

If Death is so bad, why do all skulls seem to smile?


 "Se a Morte é tão ruim, porque todas as caveiras nos parecem sorrir?"

Elas riem de nós, tolos humanos, e nossa eterna corrida contra o inevitável. Evitamos a Morte a todo custo, fazemos de tudo para nos colocarmos acima da única certeza na vida.

Inventamos deuses, fazemos orações, oferendas de "fé" [a moeda celestial], fazemos promessas que vamos esquecer de cumprir, para garantir aquela década, aquele tempo a mais na Terra. E para garantir nosso lugar no Céu de mentirinha, a utopia perfeita para arrebanhar mais tolos.

Escrevemos histórias, de terríveis inimigos e nobres heróis, para nos convencer que a esperança está no fim da estrada dos que praticam o bem. Colocamos nossas memórias no papel, em mais uma fútil tentativa de permanecer vivos por intermédio dos outros, de influenciar os que virão, de tranformá-los numa imagem de nós mesmos.

 Nossas canções falam de amor eterno e sentimentos que superam este vessel, esta fraca vida carnal, mesmo sabendo que quando estivermos de frente com um senhor magro e velho, velho como o tempo, de relógio a tiquetaquear no bolso, e ele nos estender a mão, esqueceremos amores, amizades, rixas e disputas, tudo para permanecer vivos, presentes.

Tememos a Morte, sem perceber seu caráter libertador, ao nos tirar de uma incessante cadeia de alegrias e tristezas, de sorrisos e de lágrimas, e nos juntar, sorrindo, às outras caveiras, eternamente assistindo o desenrolar desta encenação.

O Lento Entardecer

Certo autor, em dado momento, definiu seus momentos de depressão como "crepúsculos de emoção, o entardecer da alma que se aproxima de noites de tristeza e solidão".

Faço dessas minhas palavras, testemunho de momentos que foram, e que virão. Seis meses se passaram desde a última vez que decidi colocar meus pensamentos em palavras. Seis meses de mudanças, de diferenças, de vitórias e de derrotas na guerra da vida. De ver amigos onde antes haviam inimigos, e infelizmente o contrário também.

Nesse tempo, nesse hiato de produção textual, aprendi que a vida é o coringa desse baralho, sempre com uma surpresa e uma expectativa nos esperando logo ali, do lado. Enfim, agora começa um novo ciclo de idéias, textos e devaneios, em um clima bem dark.